Gosto de roteiros direcionados, principalmente para visitar grandes museus. Muitas vezes o tempo é meio escasso e quando não o é, uma limitação voluntária do tempo de visita é saudável, pois horas e horas dentro do museu tendem a gerar certa dispersão. Já fiz isso aqui falando sobre sete obras imperdíveis no Museu de Arte de São Paulo (LEIA AQUI) e agora farei algo similar com um museu lá do outro lado do oceano, a National Gallery, de Londres.
A National Gallery está entre os museus mais visitados do mundo, atrás aí de alguns pesos pesados como Louvre e Metropolitan Museum of Art de Nova York. A entrada é gratuita, exceto para as exposições temporárias, a coleção é riquíssima e a visita vale muito a pena.
Seguem as cinco mais da National Gallery na visão do blog!
1.The Virgin of the Rocks (Da Vinci)
Uma dos quadros da Virgem dos Rochedos pintados pelo genial Leonardo da Vinci. O outro exemplar se encontra no Louvre. Eles não são iguais: o quadro do Louvre demonstra o anjo no plano direito apontando sua mão para o menino Jesus (esquerda do quadro) de uma forma um tanto estranha. Há uma série de teorias e interpretações do gesto.
Aqui nesta versão da National Gallery, há detalhes interessantes: até então, esta cena era classicamente pintada com o menino Jesus abençoando São João Batista, mas aqui se vê justamente o inverso: o bebê João (canto direito inferior da pintura) é quem abençoa o menino Jesus. A mão protetora de Maria (ou ameaçadora) também salta da tela de forma interessante. Muitas técnicas que fariam Leonardo famoso, como o chiaroscuro (uso do contraste entre sombra e luz) e o sfumatto (borrar os contornos), estão presentes aqui.
2.Portrait of Giovani and his wife (Jan Van Eyck)
A obra de 1434 retrata o rico comerciante Giovanni Arnolfini e sua esposa Giovanna Cenami. Toda a pompa da cena é suavizada pelo cachorrinho no primeiro plano, com seu pelo ricamente detalhado. O espelho ao fundo da cena retrata tanto o casal como o próprio pintor.
Algumas coisas aparentemente aleatórias também carregam significado: as laranjas próximas à janela são importadas e eram um luxo ali na Bélgica, onde o casal vivia. Os tamancos espalhados no chão denotam que eles estavam descalços, representando o vínculo com o solo sagrado do lar. No lustre, apenas uma vela está acesa, que simboliza a chama do amor. Há vários outros detalhes que aludem à riqueza do casal, desde as mencionadas laranjas até o tapete no chão e às roupas.
3.The Ambassadors (Holbein)
O bacana dessa pintura é que ela foi uma das primeiras a demonstrar duas figuras em tamanho natural!
O globo terrestre na prateleira de baixo representa a ciência e a exploração marítima: a pintura data de 1533, época das grandes navegações. O instrumento logo ao lado está com uma corda quebrada: simboliza de forma óbvia a música, mas a corda pode aludir a morte.
No chão, pintada em uma perspectiva anamórfica, há uma caveira entre os dois. A forma só é reconhecível quando vista de forma oblíqua. Ela reafirma a ideia da morte. Entretanto, quase imperceptível, lá no canto superior esquerdo da pintura há um crucifixo, representando a salvação através de Cristo, já olhando para o pós-morte.
Os Embaixadores é uma obra bem interessante que demonstra que, embora o homem possa conquistar várias coisas, a morte é inevitável.
Extremamente realista no retrato dos personagens, com uma série de mensagens ocultas e simbolismos diversos, vale bem a pena ser apreciada.
4.Bacchus and Ariadne (Ticiano)
Pintado por Ticiano, o quadro mostra o momento em que Baco, deus do vinho, encontra Ariadne, sua futura noiva. Ele vem seguido por um grupo de bêbados (lembre-se que o cara é o deus do vinho) e entra de salto na pintura.
Detalhes para prestar atenção: à esquerda de Ariadne dá pra ver o barco de Teseu, antigo amante dela, afastando-se no horizonte. Baco usa uma coroa de folhas de videira, em referência ao vinho. O bebê sátiro (metade homem, metade bode) carrega uma cabeça de novilho em referência ao ritual no qual o grupo esquartejava um novilho para comê-lo cru.
5.Sunflowers (Van Gogh)
Os girassóis eram um tema recorrente na pintura de VincentVan Gogh. O amarelo era a cor favorita do pintor e ele tinha uma certa fixação em retratar os girassóis, bem como em conseguir passar para a tela as cores e texturas que ele enxergava na natureza.
Os girassóis, meio moribundos, podem trazer diversas interpretações: a sensação que eu tenho da obra é de uma certa tristeza, que o pintor carregou consigo ao longo da vida, bem como um estado de espírito turbulento e meio desesperado, que culminaram em delírios febris em certa parte da vida de Vincent.
O pintor, apesar da genialidade, mal conseguiu sucesso em vida e lutava para pagar as contas, no que contava em muito com ajuda de seu irmão. Olhando para o quadro, há camadas grossas de tinta e as pinceladas febris típicas do pintor, em diversos tons do seu adorado amarelo.
Todos os caminhos levam a:
The National Gallery, London
Onde: Trafalgar Square, Londres.
Quando: horário de funcionamento neste link.
Site: https://www.nationalgallery.org.uk/