Eu não lembro se assisti em algum programa, se li em algum lugar ou se ouvi de alguém a comparação de que Lisboa e Porto nutriam a mesma relação de São Paulo e Rio de Janeiro, exatamente nesta ordem. Realmente não sei se a relação do pessoal das duas cidades é a mesma rivalidade de faz-de-conta que há entre paulistanos e cariocas. Lembre-se de perguntar isso na sua viagem a Portugal para um deles. Tentarei lembrar também.
Eu comecei Portugal pelo Porto. Cheguei de avião em Lisboa, mas peguei imediatamente o trem para passar dois dias no Porto, dois dias estes que poderiam muito bem ser mais. Era junho, o domingo estava extremamente quente.
Comida e viagem rimam e no Porto há bastante coisa a provar: a Francesinha, um algo que mistura carnes, queijo, molho, pão de forma e afins; as Tripas à moda do Porto; o famosíssimo Bacalhau; e o Polvo a lagareiro, que também é bem comum nos cardápios da cidade.
A bebida mais tradicional da cidade é quase óbvia: o Vinho do Porto.
Vizinha ao Porto, separada apenas pelo Rio Douro e por pontes super bacanas, sendo a Ponte de Dom Luís a mais famosa delas, está a cidade de Vila Nova de Gaia. É aqui que ficam as Caves, que são as diversas produtoras do Vinho do Porto, onde você pode e deve fazer degustações e, se for o caso, comprar seu vinho.
Eu cheguei em uma cave chamada Kopke e não havia mais horário pra degustação. A funcionária foi nota dez: permitiu uma degustação informal, colocando lá no meio um vinho mais velho do que eu e cobrou um valor irrisório por isso, o valor do vinho mais barato entre os três que eu provei. Noutro restaurante, ao me ver com o celular e cabos voando pra todos lados, o funcionário me ofereceu um carregador portátil.
Pode ter sido sorte, mas o primeiro contato com os portugueses quebrou totalmente a imagem que eu tinha de um povo mais ríspido e seco no tratamento. Assim, o Porto uniu pessoas bacanas e uma cidade vizinha cheia de vinhos para provar.
Vila Nova de Gaia é cheia de ladeiras. Alcançar algumas caves se torna um exercício divertido. As ladeiras do Porto podem ser menos pronunciadas, mas também estão lá aos montes. As duas cidades descem até o Rio Douro, como duas montanhas separadas pela corrente d’água.
A margem do rio é o lugar que eles chamam de Cais da Ribeira e onde ficam vários restaurantes e músicos de rua. Por chegar no domingo, eu esperava uma cidade morta. As músicas rolando na Ribeira cheia de gente me surpreenderam. A cidade estava tudo, menos parada, e isso num domingo de noite. Num restaurante por ali eu comi um bem bolado de nozes e queijo serra da estrela que estava uma maravilha (queijo serra da estrela, não deixe de provar também).
O Cais da Ribeira à noite, com a Ponte D. Luis iluminada, fica simplesmente lindo! O pôr do sol por ali também é super bacana, dá um monte de gente de bobeira sentado por ali conversando e apreciando.
Em vielas, crianças jogando bola, em meio a casas antigas com paredes descascadas pelo tempo e que, apesar de tecnicamente feias por esse desgaste, conservam seu charme.
Em lojinhas, vários souvenirs com o galinho do Porto, símbolo da cidade.
Na Rua das Flores, artistas de rua, restaurantes com mesas na calçada, prédios enfeitados com adornos coloridos.
Nas praças, prédios grandiosos.
Na tradicional Estação São Bento, azulejos que contam um pouquinho da história de Portugal.
Se você sentir o que eu senti, você não sairá indiferente do Porto. E depois você precisará ir a Lisboa pra dizer qual das duas é mais legal.