Vale a pena visitar a Casa Rosada?

Visitar a Casa Rosada, sede do Poder Executivo da Argentina, pode parecer um programa chato, ainda mais numa cidade cosmopolita e com uma cultura própria tão forte, cheia de monumentos, bons restaurantes, bairros, feiras e coisas interessantes para se ver… lá fora. Essa visão pode vir do fato de que política nos faz lembrar de políticos e, convenhamos, eles mais atrapalham do que ajudam. Sim, estou sendo diplomático. Na minha visão ácida da situação, eu diria muuuuuuitas outras coisas, mas…  deixemos essa conversa para depois.

Estou em Buenos Aires, mais precisamente na Praça de Maio (Plaza de Mayo), já rodei um pouco por esta cidade com toque europeu e estou admirado com a beleza arquitetônica deste lugar. Começo a entender as raízes daquele orgulho argentino que irrita tanto aos brasileiros. Controvérsias à parte, eu havia lido sobre a visita guiada da Casa Rosada e lá estava eu numa fila de espera para adentrar ao imponente edifício de cor rosa.

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Entrada da Casa Rosada: uma visita aos bastidores da política.

Logo após o pórtico, passamos pelos detectores de metal, e pegamos a senha para aguardar até que nosso guia chamasse o grupo para iniciar a visita. Este hall é amplo e com algumas figuras “ilustres” que de alguma forma influenciaram a história do povo argentino. Comecei por impulso a tirar fotos, até descobrir que desconhecia por completo aqueles personagens históricos, e, diante da minha ignorância, achei melhor dar um momento de descanso para a câmera.

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Hall da Casa Rosada: parece museu, mas é a tentativa de dizer que eles também têm história.

Adiante, nas laterais, observei a existência de uma “capelinha”, que estava vazia, e a cobertura de vidro projetando uma luz natural sobre o ambiente. Tivemos um pouco de dúvida, não sabíamos onde esperar e não havia lugares para sentar. Parecia uma coisa sulamericana, “baguçadinha”, mas acho que foi a impaciência de quem já estava com os pés cansados.

O pátio aberto na lateral foi uma agradável visão, estava tranqüilo e eu poderia descansar as pernas por alguns minutos. O lugar era austero, limpo, e tinha certo silêncio e solidez difícil de explicar.

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Uma das alas laterais abertas ao público. Devo confessar – há uma certa originalidade e beleza própria do lugar.

Enfim, nosso Guia chamou o “próximo grupo”. De repente um aglomerado se formou, havia alguns brasileiros além de nós e outras nacionalidades latinas. Basicamente o guia falou em espanhol, puxando um portunhol em certos momentos, mas simpatizei com o cara, porque ao longo do trajeto ele sempre deixava umas piadinhas inacabadas, ou realçava certos detalhes pitorescos, o que tornava o enredo ao longo da casa até bem divertido.

As visitas guiadas na Casa Rosada são gratuitas e funcionam nos finais de semana e feriados, mas durante a semana este palácio é uma sede de poder e decisões. Um centro administrativo, com seus funcionários, pendências e rotinas de trabalho. É exatamente isso que torna a visita algo bastante interessante, porque ao longo do trajeto, em diversas salas – geralmente nestes locais não se pode fotografar – o que vemos são mesas de trabalho, com papeis dobrados dentro de agendas, recados anotados em post-it, pastas guardando ofícios e memorandos. De alguma forma, é como estar nos bastidores do poder.

Após passar por salas de reuniões, espaços de conferências, gabinetes com mobília pesada, escadarias, coisas que em si guardam uma beleza aristocrática, seguimos por um corredor com vista para o Pátio das Palmeiras, realçando o lado tropical, de cor amarelo suave, lembrando, por que não, o próprio sol presente na bandeira Argentina.

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Patio das palmeiras: tudo impecável, sem excessos, agradável.

Além disso, há um corredor chamado “Galeria de Idolos Populares“, meio básico demais, com fotos que vão de esportistas a literatos. Não condiz. É como um corredor de museu do bairro.

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Quem teve a ideia de criar este corredor basicão? aff…

A visita estava chegando ao fim, mas o melhor sempre fica para o final. Dois momentos ímpares que sugerem interpretações diferentes. Primeiro, na seqüência do trajeto, passamos pela varanda externa que fica na parte frontal da Casa Rosada. É o lugar onde os presidentes, em diversos momentos da história, fizeram discursos para o povo argentino. É lugar histórico, notavelmente, e que oferece ao visitante uma visão única da Plaza Mayo. É um momento bastante descontraído, uns acenam dando tchau, outros fazem poses de estadistas. Felizmente ninguém se atreveu a cantar… “don’t cry for me Argentina…”.

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Vista frontal para Plaza Mayo.

Logo depois, entramos na Sala dos Espelhos, de pendor renascentista, com um equilíbrio ótimo de luzes e ornamentação, capaz até de deixar muitas cortes européias com ciúmes, posto que seus palácios às vezes pecam pelo excesso rococó. Lugar onde o Presidente sela tratados ou onde importantes cerimônias acontecem. Se há espelhos, é para refletir o próprio povo (deveria), de certa forma personificado na figura do presidente, reverenciando, pelo menos simbolicamente, a cultura e os valores porteños. É a hora em que todos ficam meio boquiabertos, e fazem uma pausa de descanso.

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Sala dos espelhos. Beleza e equilíbrio no clímax da visita. Não se preocupe, não estou revelando tudo… pessoalmente será mais fascinante!

E, neste salão que é palco de importantes decisões, uma singela homenagem ao nosso Guia que foi muito bacana ao longo de todo trajeto, paciente com os deslocados que se perdiam pelos corredores, revelando bom humor e compartilhando boas histórias.

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Uma homenagem ao guia!

E para não deixar dúvidas na interrogativa, respondendo à pergunta que está no título, na minha opinião, vale muito a pena visitar a Casa Rosada. Você aprende um pouco aquilo que os livros de história não sabem contar.

 

Todos os caminhos levam a:

Casa Rosada

Onde: Calle Balcarce, nº 50 (de frente para Plaza Mayo, não tem erro)

Quando: finais de semana e feriados, das 10h às 18h.

Quanto: Grátis!

 

Um mineiro que gosta de histórias, e acha que escrever e ler é o melhor passatempo.

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