Quando fui a Montevidéu, reservei um dia só para conhecer vinícolas. Motivos não faltavam. As bodegas ficam próximas da capital – cerca de 30 minutos de carro, os vinhos uruguaios são muito bons, e era um domingo preguiçoso. Havíamos andado muito no dia anterior, atravessando a Ciudad Vieja em vários sentidos e pontos de interesse. Queríamos o arrego de boas taças de vinho acompanhadas de queijos e outras iguarias. Enfim, queríamos sair do espaço urbano e cair na estrada, em direção a fazendas cercadas de vinhedos.
Uma breve pesquisa meses antes me fez optar por duas bodegas que, na minha opinião, complementam-se de forma bem interessante. Falo da Bodega Juanicó e da Bodega Bouza. Em linhas gerais, a Juanicó é mais rústica, doméstica, e tradicional. Tem um jeito mais rural e intimista. Por outro lado, a Bouza tem um estilo mais descolado, um rústico-refinado, uma bodega boutique, como eles se autodenominam.
Optamos por conhecer as duas no mesmo dia, já que ambas ficam no mesmo sentido, seguindo pela da Ruta 5, no distrito de Canelones. Tudo pertinho de Montevidéu. Fizemos as reservas previamente através do site e tivemos a confirmação por e-mail. No roteiro, primeiro a Juanicó, com reservas para o meio-dia. Depois a Bouza, às 4 da tarde. Abaixo conto um pouco da experiência de conhecer cada uma delas.
Juanicó, a autêntica
Após sair da Ruta 5, caímos numa estrada de terra com uma paisagem totalmente rural. Achamos diferente, e tudo aquilo parecia parado no tempo. Aquelas eram as terras da família Deicas, os proprietários da Juanicó, fundada em 1830. Não demorou e avistamos uma casinha, um galpão, e chegamos ao destino. Era cedo ainda e nos sentimos menos brasileiros do que nunca. Pontualidade britânica não é o nosso forte, ainda mais em terras porteñas.
Após apresentar os vouchers impressos (como se aquilo tivesse alguma importância, afinal, nos receberam como se nos esperássemos), saímos para ver as áreas adjacentes, e aguardar a hora para o início da visita guiada.
Logo apareceu a guia e aglutinou o grupo disperso. Lamento por não ter tirado uma foto com ela, pois era uma moça agradável e simpática, e seria uma boa recordação. Se tiver oportunidade, faça-o, pois as melhores recordações são as pessoas. As explicações sobre o processo de produção e a história da bodega foram no idioma espanhol, mas relativamente fácil de compreender.
A Juanicó tem como centro de sua vinícola um grande restaurante rústico e antigo, que deve datar de muitas décadas e, pelo que entendi, é a menina dos olhos daquela bodega. Em torno desse restaurante rústico, mas climatizado, se estendem as instalações e vinhas a perder de vista.
A visita guiada percorre diferentes lugares e possibilita uma certa imersão bacana no mundo dos vinhos. Do sol das parreiras às cavas frias onde amadurecem os vinhos, passamos para o restaurante no qual faríamos a degustação propriamente dita. Optamos pelo pacote que incluía visita guiada às instalações da bodega, degustação de 5 vinhos acompanhada de uma seleção de queijos, presuntos e pães artesanais. Este pacote é chamado de Tour premium select. Há outras opções para reserva, mais simples (sem a tábua de frios) ou mais sofisticadas (com almoço). Observando os demais visitantes, acho que o pacote que escolhemos era também o mais comumente reservado.
A Juanicó tem um pé na simplicidade e outro na tradição. As coisas parecem estar ali há muito tempo. Achei legal que os vinhos tenham sido colocados numa mesa ao centro, dando certo destaque e honraria aos rótulos a serem degustados. Confesso que facilitou bastante na hora de registrar no vivino 🙂
Um aspecto negativo que precisa ser dito é que para cada visitante é colocado apenas uma taça. A taça é, diga-se, um belo exemplar de proporção majestosa. Por outro lado, não é prático. Pois o restinho de um vinho se mistura com o próximo a ser degustado, além de impedir as divertidas comparações taça-a-taça. Isso precisa ser melhorado.
Bouza, a descolada
Seguimos agora em direção à Bodega Bouza, construída em 1942. Não gastamos nem 15 minutos no deslocamento. Chegamos ao lugar e estava relativamente cheio de gente dentro do restaurante. Grande movimentação de pessoas em diferentes idiomas. A bodega Bouza sabe encantar o cliente, e com isso quero dizer que eles não abrem mão do marketing. Há uma identidade visual que vai do site aos grandes tonéis.
O lugar é bonito, refinado e abrange vários ambientes. Há uma certa eficiência que traz segurança ao turista. Informações e mapas da vinícola se traduzem na ideia de que cada coisa foi pensada para criar um ambiente agradável.
Ao lado do restaurante há uma boutique para a compra de vinhos e acessórios, bem como, outros itens típicos da cultura local. Tudo caro e mais bonito de ver do que de usar. Imagino que o alvo sejam os turistas que desembarcam nos navios cruzeiros próximo à região do porto de Montevidéu e que, trazidos em vans pretas como pude observar, estão sempre com muita pressa e ávidos por encher sacolas.
Completando o cenário idílico, há um vagão de trem, em que tirei uma foto e fiquei parecendo cantor de sertanejo, e uma coleção de 30 carros e motocicletas antigos muito bem preservados. Num certo momento, já no cair do sol, um mecânico de forma “despretensiosa”, de bermuda e como se tivesse acordado de uma soneca, coloca os carros do lado de fora para tomar sol. Isso cria um ambiente realmente maravilhoso para tirar muitas fotos.
Um vagão de trem e carros antigos – símbolos que remetem à tradição e cultura
A visita guiada seguiu um percurso parecido com a Juanicó, passando por instalações, lugares de armazenamento, parreiras (didaticamente separadas em uvas de mesa e uvas finas), enfim, terminando no ponto de partida que é o restaurante.
No pacote de degustação da Bouza estavam inclusos 4 tipos de vinhos acompanhados de uma tábua de frios. As porções eram mais modestas quando comparadas com a Juanicó mas, por outro lado, havia 4 taças pequenas para que cada vinho fosse degustado separadamente. O restaurante, em estilo rústico-clássico, estava cheio, mas fomos acomodados numa mesa para dois, o que nos deixou bastante satisfeitos.
Assim, na minha opinião, a Bouza completa a Juanicó e vice-versa.
Se você, caro leitor, tiver outras sugestões de vinícolas uruguaias, compartilhe-as conosco. Espero voltar logo ao paisito e degustar novos vinhos.
Todos os caminhos levam a:
BODEGA JUANICÓ
ONDE: Ruta 5, Km 37,8 – Canelones
QUANTO: Fizemos a degustação chamada “Familia Deicas”, que inclui 4 tipos de vinho e um licor. Fico devendo o valor.
QUANDO: envie e-mail para visita@juanico.com
SITE: Juanico
BODEGA BOUZA
ONDE: Camino La Redencion 7658, 12500 Montevideo, Uruguai.
QUANTO: U$S 42 por pessoa (Degustação de 4 tipos de vinho)
QUANDO: consulte o site
SITE: Bouza
3 pensamentos em “Duas vinícolas no Uruguai: Juanicó + Bouza”
Olá Janaina, confesso que fomos entre uma e outra de carro mesmo, porém com um bom intervalo de tempo, de forma que o efeito do álcool havia passado. Basicamente são 28 Km de distância e não conheço algum outro meio de transporte que ligue as duas vinícolas. Bom passeio =)
Olá. Gostaria de visitar duas bodegas no mesmo dia. Não queremos ir de carro por causa da lei seca. Sabe como ir de uma Bodega a outra? Fiz uma cotação em agência e achei abusiva. Obrigada