Um dia eu estava voltando do trabalho, cansadíssimo e mal-humorado. Estava esperando na fila do ônibus e um engraçadinho tentou cortar a fila na minha frente na hora de entrar. “Não hoje”, eu pensei.
Aquilo já havia acontecido outros dias com outras pessoas e eu sempre levava na boa. Mas há dias em que você não quer levar nada muito na boa. Há dias em que você poderia brigar por algo idiota. Há dias em que, na verdade, você até acharia bom ter um motivo.
Não deixei o cara passar. Ele tentou desviar e eu coloquei o corpo na frente, novamente. Ele me olhou com cara de espanto e eu retruquei com cara de desafio.
“Ei, cara! Eu sou o motorista!”
“Ô, cara, desculpa, pode passar”.
Fantástico, o único dia da minha vida que eu estou realmente a fim de brigar eu dou uma bola fora dessa. Só comigo. 😛
Tirando este episódio real e ridículo é muito raro me ver perder ou a ponto de perder a cabeça. Se você não souber lidar com a rotina e com os problemas, ambos o sufocam e extraem o pior de você.
São pequenas coisas com as quais você lida no dia a dia, aliadas, às vezes, a grandes problemas, que vão formando um conjunto e uma hora… você estoura. E estoura por coisas mínimas, não porque aquela coisa mínima seja importante, mas porque era a gota d’água que faltava.
Por isso é importante não se deixar embrutecer pela rotina diária.
Faça e busque o que quer que você precise buscar ou fazer para que a rotina não te endureça e não te mate. Viajar, claro, é uma das respostas mais óbvias. A viagem, além de trazer conhecimento, realiza uma higiene mental e de espírito.
Mas vai bem além disso.
É necessário aliar à nossa rotina coisas bacanas que tornem o nosso cotidiano mais agradável e leve. O que você quiser. Leitura, academia, esportes, um curso, hobbies, ócio puro e simples. Aquilo que te faz bem. No geral, não passamos a maior parte das nossas vidas viajando, então não faz sentido que todos os momentos de alegria venham unicamente das viagens.
A vida precisa ser vivida plenamente e não apenas nos intervalos proporcionados pelas férias.
Quando você consegue viver de uma forma mais agradável e mais leve, tudo muda. Você passa a ter muito mais paciência para lidar com as situações do dia a dia. Você não vai tentar arrumar briga com o motorista de ônibus, pra começar.
Muitas vezes visitamos outros lugares e ficamos admirados com certos aspectos locais. Lembro de achar o povo inglês educadíssimo, por exemplo. Em vez de se admirar e xingar o nosso local de origem, por que não tentar trazer um pouco disso para o nosso dia a dia? Não adianta eu admirar a educação lá e ser mal educado aqui, há uma grande incoerência aí. Incoerência muitíssimo comum, ressalte-se.
E um simples gesto já é um começo.
Outro dia, o Ari me passou um artigo da BBC para leitura, o qual eu recomendo e você pode ler neste link. O artigo entitulado “Qual é o país mais bem educado do mundo?” fala, entre outras coisas, sobre a gentileza no Japão e de como essa corrente do bem é contagiante.
Li o texto no meu caminho para o trabalho e, ao descer do metrô, uma senhora me pediu informação sobre como chegar a uma certa rua. Eu realmente não sabia onde ficava aquela rua, então me desculpei e segui o meu caminho.
Mas pera. Realmente não havia como ajudá-la?
Voltei à senhora e disse que poderia procurar o caminho no GPS do celular. Achei a rua e era realmente perto dali, mostrei e expliquei a ela como chegar. Ela foi embora agradecida e eu, satisfeito por ter conseguido ser útil.
Muitas vezes se trata apenas da disposição de ajudar e de tentar fazer o bem para os outros. São pequenos gestos. Gentileza gera gentileza, é a mais pura verdade. Mas também é verdadeiro que atos negativos podem gerar uma corrente igualmente negativa.
E, além do mais, é muito mais bacana ser gentil do que tentar brigar com o motorista de ônibus que vai te ajudar a chegar em casa. Não acha? 😛